Diferenças entre a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e a Medicina Moderna Ocidental (MMO)

Por Fernando  Davino Alves

Medicina é medicina em qualquer lugar do mundo. A intenção em tratar problemas de saúde não muda de uma medicina tradicional para medicina moderna. Então o que muda? A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) tem sua base enraizada na tradição, na cultura chinesa, enquanto a Medicina Moderna Ocidental (MMO) é um ramo da medicina empírica ocidental. Na prática o que isso quer dizer? A diferença das duas medicinas está na forma de abordar o indivíduo, como é realizado o diagnóstico, a estratégia terapêutica e o tratamento. A grande diferençaentre a MTC e a MMO é que na MTC faz diferenciação de síndromes e na MMO faz diferenciação de doenças. A diferenciação de síndrome permite na MTC observar o indivíduo como um todo, não separando aspectos físico, corpo, aspectos emocionais, aparelho mental, manifestação do espírito, sistema de crença, e sua troca com o ambiente onde está inserido; já na MMO divide-se o indivíduo em cabeça, tronco, membros e dissocia corpo, mente e espírito. Portanto, para a Medicina Tradicional Chinesa a doença não é o foco e sim o indivíduo na sua totalidade.

Em uma consulta com um médico, MMO ou em MTC, os questionamentos iniciais são os mesmos: O que você está sentindo? O que lhe incomoda? Qual a sua queixa? A partir daí trilha-se de forma diferente o método para alcançar o tratamento. O médico (MMO) a partir de uma boa avaliação clínica, pode solicitar exames complementares afim de fechar o diagnóstico, que depende do relato do paciente, da inspeção física e exames laboratoriais ou de imagens, analisa-se assim as informações permitindo elaborar o diagnóstico nosológico e posteriormente o tratamento, que pode incluir, desde orientações, prescrição de medicamento alopático, cirurgia e em alguns casos, tratamentos com radioterapia e/ou quimioterapia. Na Medicina Tradicional Chinesa, também pode se valer dos mesmos recursos da MMO (exames laboratoriais e de imagens), com o intuito de enriquecer o profissional para finalizar seu diagnóstico, porém eles não são a base da anamnese ao diagnóstico sindrômico. O diagnóstico da MTC é energético, seguindo quatro tempos de exame: 1) observação, 2) questionamento, 3) inspeção e 4) palpação; que levam a um padrão energético de uma síndrome. Portanto, cada síndrome apresenta distúrbios em padrões diferentes, o que mostra várias possibilidades de síndromes numa mesma doença. Uma outra característica do diagnostico da MTC é a observação da língua e a palpação do pulso que ajudam a entender o interior do indivíduo e suas manifestações externas. A forma de tratamento pode ser realizados de diversas formas: prescrição de medicamentos fitoterápicos; acupuntura-moxabustão; massagem; dietética e exercícios terapêuticos (qigong, taijiquan, ba duanjin, wuqinxi, entre outros). 

Para exemplificar essa diferença de abordagens da MTC e da MMO em um número vasto de casos em que pacientes apresentam gastrite, um médico ocidental possivelmente verá a gastrite como sendo causada por uma inflamação, infecção ou erosão do revestimento estomacal. Sob a ótica da medicina chinesa, a gastrite pode ser causada por frio, calor, ansiedade, irregularidade alimentar, ingestão de álcool, efeito colateral de medicamentos, etc. Em cada um desses casos, o tratamento da MTC é diferente. No caso de ansiedade, por exemplo, buscamos saber quais os órgãos estão em desarmonia, ajudamos esses órgãos a se regularem e acabamos com a causa do problema. Outro exemplo comum que podemos ver a diferença nas abordagens  é a dor de cabeça. Na medicina chinesa, as dores de cabeça são divididas por áreas, por exemplo, uma dor de cabeça frontal indica um problema digestivo, já que ali se inicia o canal de energia que corresponde ao estômago, portanto, tratá-lo é fundamental. Se as dores forem nas têmporas, o problema está no fígado e na vesícula biliar, já que ali o nível energético tem relação com estes dois órgãos. É uma visão bem diferente da medicina alopática, concorda?

Uma medicina não é melhor do que a outra. Na verdade, elas se complementam. Na China, médicos de MTC têm a autonomia para tratar seus pacientes com qualquer uma das medicinas, e dão essa opção de escolha de tratamento aos seus pacientes. O paciente escolhe ser tratado com medicamentos químicos ou uma fórmula natural de componentes da fitoterapia chinesa. Porém, uma fórmula chinesa receitada a um paciente nunca é igual a de outro paciente, mesmo que as síndromes sejam iguais, porque cada um tem características diferentes e é através delas que determinamos um tratamento individualizado e com nenhum ou pouco efeito colateral.

Sobre o meu ponto de vista a MTC atua bem na prevenção de doenças, no equilíbrio do corpo, tem bons resultados em tratamentos de doenças crônicas em geral, casos de sub-saúde* e também pode atuar reduzindo os efeitos colaterais de medicamentos em algumas doenças, como gastrites, doenças ginecológicas, dores de cabeça, eliminação de toxina entre outros. A MMO tem ação muito boa em doenças agudas infecciosas, doenças com febres altas e doenças que precisam de ações imediatas, além de cirurgias.

Algumas instituições de saúde em nosso país já fazem uso de técnicas da MTC, como é o caso do ambulatório de MTC do Setor de Investigação de Doenças Neuromusculares da UNIFESP, coordenado pelo Dr. Acary Souza Bulle Oliveira. Entretanto, o tratamento em conjunto das duas medicinas ainda é tímido no Brasil, mas tem crescido, à medida que as pessoas se conscientizam que o equilíbrio do corpo é o melhor remédio para afastar doenças.

* A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a condição de “sub-saúde” como um estado entre a saúde e a doença, quando todos os índices físicos e químicos básicos dão negativo, mas a pessoa experimenta diversos tipos de desconforto e até mesmo a dor. A MMO está em um impasse quando se lida com condições de sub-saúde, mas a MTC mostra sua força ao lidar com problemas de sub-saúde através do exame de todas as condições do corpo e graças a uma análise da diferenciação de síndromes.

Referência:

meridianospa.com.br/blog por Paulo César Gonçalves (BUCM)

Texto original modificado e revisado por: 

Fernando Davino Alves (BUCM)

Paulo Eduardo Ramos (UNIFESP)

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Comentário (2)

  • imóveis em padre miguel| 4 de setembro de 2019

    Poxa muito bom, foram direto ao ponto.

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