Estagiário de Medicina Tradicional Chinesa pretende levar habilidades ao Brasil.

Por Tracie Barrett (China Daily)

http://www.chinadaily.com.cn/weekend/2014-11/22/content_18958676_4.htm

Fernando Davino, um estudante de pós-graduação de Medicina Tradicional Chinesa, realiza acupuntura em um paciente no Hospital de Acupuntura e Moxabustão da Academia de Ciências Médicas da China (CACMS).
[Foto por Bruno Maestrini/China Daily]

Muitos pacientes em Pequim ficam surpresos e até chocados quando encontram pela primeira vez um especial praticante da medicina tradicional chinesa.

“Laowai! Laowai!” eles frequentemente susurram, como se houvesse alguma dúvida de que o interno musculoso de 38 anos, que é mais alto que a maioria de seus pacientes em seus 1,87 metros de altura, poderia ser qualquer coisa, menos um estrangeiro.

Fernando Davino, que trabalhou em seis hospitais de Pequim enquanto completava sua graduação em MTC, diz que normalmente leva alguns dias para seus pacientes da pós graduação responderem a ele como médico. Mas, até o final da semana, eles estão solicitando que ele os trate.

A reação de surpresa é apenas uma das muitas dificuldades que o brasileiro enfrenta ao estudar uma disciplina essencialmente chinesa no país de origem. Alguns são menores – seus jalecos, tem que ser feitos sob medida. Outros são mais sérios – embora ele agora seja fluente em chinês, além de seu nativo português e inglês de conversação, nem sempre foi assim.

Davino, que é da cidade de Ouro Preto, no estado de Minas Gerais, possui dois diplomas de graduação em MTC – um do Brasil e o segundo da Universidade de Medicina Chinesa de Pequim – e espera concluir seu mestrado no próximo ano.

Suas aulas de medicina chinesa no Brasil foram ministradas em chinês por médicos chineses, por meio de intérpretes, então Davino estava familiarizado com alguns termos médicos quando chegou a Pequim em 2006. No entanto, ele não tinha a língua chinesa necessária para o dia-a-dia e diz que naquela época, Pequim era um lugar muito mais difícil de viver como estrangeiro.

Dr. Fang yi gong (房繄恭) em atendimento no hospital de acupuntura e moxabustão da Academia de Ciencias Médicas da China (CACMS), com a ajuda do Dr. Fernando Davino
[Foto por Bruno Maestrini/China Daily]

“Foi 100% difícil. Eu não entendia nada. Tudo o que sei sobre a língua chinesa, estudei aqui.”

Ele disse que demorou muito para fazer amigos chineses e cerca de seis meses para começar a entender a língua. Achava que nunca aprenderia até que um amigo sofresse um acidente automobilístico e Davino precisasse ajudá-lo a negociar o sistema hospitalar chinês.

“Ele tinha muita papelada e raios-X. Falei com o médico e tive que falar em chinês.”

Depois de passar a noite toda no hospital ajudando seu amigo, Davino voltou para casa sentindo-se mais confiante.

“Eu tive uma boa sensação. Pensei: ‘Eu posso fazer isso.’ Esse foi o momento que a ficha caiu”, diz ele, após o que ele não se preocupou mais em ser capaz de ter sucesso aqui.

Os oito irmãos mais velhos de Davino são engenheiros (uma profissão pela qual sua cidade natal é conhecida), empresários, comerciantes e educadores, mas ele não queria se tornar nada disso. Então ele percebeu que a medicina também era uma habilidade técnica.

“Eu gosto de tecnologia, e descobri que o corpo humano é a máquina mais incrível. É incrível como o corpo é”, diz ele.

Ele começou a estudar medicina ocidental, mas logo decidiu estudar a MTC.

Ele diz que um dos maiores erros que as pessoas cometem é tentar comparar a MTC e a medicina moderna ocidental.

Davino em atendimento uma de suas pacientes durante o mestrado clínico
[Foto por Bruno Maestrini/China Daily]

“A medicina ocidental é tecnológica. Ela olha para o futuro, para coisas microscópicas como células, bactérias e vírus.

“A medicina chinesa é mais integrativa. Olha para o passado, quando o homem tinha uma relação melhor com a natureza.

“Elas têm que ser colocadas juntas. Elas têm diferentes teorias, diferentes significados, diferentes filosofias, mas elas podem ajudar uma a outra.”

As dificuldades que ele enfrenta como praticante da MTC não cessarão quando ele voltar ao Brasil. O curso que ele iniciou em 2001 foi o primeiro do gênero e, embora tenha recebido um diploma de graduação, ainda não foi reconhecido pelo Ministério da Educação do país. A MTC também não é considerada medicina no Brasil.

No entanto, ele espera ter seu diploma validado por uma universidade no Brasil depois de ter mais aulas lá para atender às exigências da instituição. Ele diz que há um precedente de dois chineses formados em medicina chinesa de sua universidade que complementaram seus estudos em universidades federais brasileiras e agora são reconhecidos como médicos.

Davino espera ser o primeiro brasileiro a conseguir o mesmo e depois pretende ajudar os outros colegas a seguir o seu caminho.

“Eu quero abrir uma clínica e dar aulas”, diz ele. “Eu quero ajudar a nova geração de estudantes brasileiros no caminho da medicina chinesa.”

Dr. Fang yi gong (房繄恭) ensinando segredos da acupuntura para o tratamento de infertilidade feminina ao Dr. Fernando Davino.
[Foto por Bruno Maestrini/China Daily]

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